VOCÊ ESTÁ APENAS CANSADA OU ESTÁ NA MENOPAUSA?
- Gisele Barros

- 16 de jun.
- 6 min de leitura
Não é só o fator hormonal que explica o sintoma de fadiga na menopausa. Por isso, avaliação médica é fundamental para descartar diagnósticos diferenciais, como anemia, disfunções na tireoide e quadros depressivos.

De repente, mulheres na menopausa começam a sentir que caíram em um verdadeiro labirinto, o da síndrome de fadiga crônica. Exaustas 24 horas por dia, elas relatam fadiga intensa, que interfere em diversos aspectos da vida. “Não há uma resposta única para explicar porque mulheres na menopausa sentem-se cansadas. São fatores hormonais, físicos e, algumas vezes, emocionais, atuando de forma combinada”, explica o Dr. Nélio Veiga Junior, médico ginecologista e obstetra, Mestre e Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). “Claramente existe um fator hormonal na menopausa. É muito comum que as mulheres sintam isso, mas elas melhoram com o tratamento. Porém tem uma coisa muito importante sobre isso, que nem tudo é sobre hormônios. Existem várias condições envolvidas e o cansaço é um sintoma que pode ter inúmeras causas. As pessoas de modo geral já têm uma tendência de se perceberem mais cansadas pela vida moderna, porque lidam com mais coisas, são mais sobrecarregadas de trabalho e mais bombardeadas de informação. Então uma mulher multitarefas, mesmo que não tenha nada relacionado aos hormônios, já tem uma tendência de se sentir mais cansada”, explica o ginecologista Dr. Igor Padovesi, autor do livro 'Menopausa Sem Medo' (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Mas atenção: “O cansaço tende a piorar se não for tratado adequadamente”, alerta o Dr. Igor. “A mulher vai tendo mais efeitos da falta progressiva do estrogênio, o corpo vai perdendo massa muscular e óssea, a sensação de vitalidade e disposição vai progressivamente piorando”, diz o médico.
Segundo a endocrinologista Dra. Deborah Beranger, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), toda reclamação de cansaço merece uma investigação, pois o fator causal pode ser físico e emocional. “O cansaço, no dia a dia, tem que ser investigado e pode ter várias causas. Anemia, diabetes, glicose alta, hipotireoidismo (que é a diminuição da produção de hormônio de tireoide), alteração cardíaca (quando a bomba cardíaca não está funcionando de maneira adequada), hipertensão ou arritmias gerando problemas cardíacos, doenças mentais (depressão, síndrome do burnout que hoje em dia é tão comum encontrar pacientes com esgotamento físico e ansiedade) podem ser causas do cansaço. E algumas medicações que também podem causar fadiga. Os próprios antidepressivos e antipsicóticos podem dar fadiga”, explica a Dra. Deborah.
Apesar dessa ressalva, o fator hormonal pode impactar realmente na sensação de cansaço, segundo o Dr. Igor. “É um sintoma que chega a ser exagerado às vezes, da mulher se sentir realmente esgotada, muito sem energia e ter essa percepção de que continua fazendo as mesmas coisas que ela fazia antes, as mesmas atividades, mas passa a se sentir muito mais cansada”, explica o Dr. Igor. “O declínio flutuante (no começo do climatério) e, após, permanente dos níveis hormonais do ovário podem levar a mudanças no metabolismo dessas mulheres. Na menopausa, a diminuição do estrogênio pode causar piora da qualidade do sono e levar essas mulheres à onda de calor, que quando acontecem à noite (são os suores noturnos), os fogachos podem interferir no sono, o que frequentemente resulta em fadiga e pode levar à irritabilidade e instabilidade emocional. É preciso ficar atento que o cansaço prolongado, acompanhado de perda de interesse em atividades normais, tristeza, irritabilidade, mudança de peso e diminuição do desejo sexual pode ser um sinal para uma investigação de uma depressão clínica”, acrescenta o Dr. Nélio.
A Dra. Deborah explica que só é possível parar de sentir cansaço quando há um diagnóstico detalhado. “É importante a gente fazer uma história clínica detalhada desse paciente. Muitas vezes é necessário fazer exame complementar para fechar o diagnóstico, dependendo da causa, e tratar o sintoma de acordo com a causa da fadiga”, explica a médica.
De acordo com o Dr. Igor, a reposição hormonal é o principal tratamento que melhora a fadiga quando a causa é a menopausa. “Nessas mulheres analisadas com cuidado, que não têm outras causas evidentes que causem fadiga e que já foram descartados também outros diagnósticos diferenciais possíveis, a reposição hormonal adequada vai melhorar os sintomas em geral, incluindo a queixa de cansaço”, diz o ginecologista especialista em menopausa. “Nem toda causa de cansaço de mulher de 45, 50 anos é a transição menopausal. É necessário descartar anemia, disfunções da tireoide, quadros depressivos”, completa o Dr. Igor. “É importante também sempre iniciar o tratamento com mudanças no estilo de vida: prática regular de atividade física, alimentação balanceada, cuidar do peso, evitar tabagismo, álcool e cafeína, introduzir técnicas para reduzir o estresse (ioga, meditação e técnicas de relaxamento); suplementação de polivitamínicos (cálcio e vitamina D, que atuam na prevenção da osteoporose) também ajudam”, completa o Dr. Nélio. “Um destaque também é a questão do sono, porque muitas mulheres começam a se sentir muito cansadas porque dormem mal, e o efeito da menopausa sobre o sono é um dos mais comuns e mais precoces. Então pode aparecer já numa fase precoce da transição menopausal, uma mulher que ainda tenho ciclos normais, que ainda não tem outros sintomas significativos, pode ser uma das primeiras manifestações. Ela começa a dormir mal, ter dificuldade de adormecer, ter despertares noturnos, dificuldade de voltar a dormir, o sono mais leve, menos reparador. E, claro tem outros hábitos que interferem, mas com destaque para a questão do sono. Para melhorar a qualidade do sono, é indicado criar uma rotina regular, dormindo e acordando no mesmo horário todos os dias. E, claro, evitar telas antes de dormir, pois a luz azul pode atrapalhar a produção de melatonina. Além disso, é importante ter um ambiente adequado, com quarto fresco, escuro e silencioso, e evitar o consumo de cafeína e álcool à noite”, orienta o Dr. Igor.
Por fim, os médicos reforçam que é fundamental buscar ajuda ginecológica. “O cansaço pode ser progressivo, não somente após a menopausa, mas até o final da vida. Ele tende a continuar e piorar, diminuindo a sensação de disposição, vitalidade e energia” explica o Dr. Igor. “Se a mulher mantiver o sedentarismo, essa sensação de fadiga pode se tornar persistente. Dessa forma, essa mulher irá necessitar de intervenções contínuas para melhora da sua qualidade de vida”, finaliza o Dr. Nélio.
FONTES:
*DR. IGOR PADOVESI: Médico ginecologista, autor do livro 'Menopausa Sem Medo' (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Formado e pós-graduado pela USP, onde foi preceptor da disciplina de Ginecologia. Também é especialista em cirurgias ginecológicas minimamente invasivas e criador do Instituto de Cirurgia Íntima, sendo reconhecido internacionalmente por sua liderança nessa área. É membro sênior da European Society of Aesthetic Gynecology (ESAG) e em 2024 conquistou dois prêmios de primeiro lugar em congressos mundiais com sua técnica de ninfoplastia a laser, realizada em consultório. Também é palestrante e mentor de médicos nas áreas de menopausa e cirurgias íntimas. Instagram: @dr.igorpadovesi
*DR. NÉLIO VEIGA JUNIOR: Médico ginecologista e obstetra, Mestre e Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). Atua em consultório privado e já foi médico preceptor no curso de Medicina da UNICAMP e médico pesquisador no Centro de Pesquisa em Saúde Reprodutiva de Campinas. Participa periodicamente de congressos, eventos e simpósios, além de ser autor de diversos artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. CRM 162641 | RQE 87396 | Instagram: @neliojuniorgo
*DRA. DEBORAH BERANGER: Endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pós-graduação em Terapia Intensiva na Faculdade Redentor/AMIB. Com cursos de extensão em Obesidade, Transtornos Alimentares e Transgêneros pela Harvard Medical School, a médica tem MBAs de Saúde e Qualidade de Vida, de Marketing e Branding Médico e de Mindset, todos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e curso de Obesidade e de imersão em Medicina Culinária pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Fez Fellowship pela European Association for the Study of Obesity, em Portugal; é speaker dos laboratórios Servier, Novo Nordisk, Novartis, Merck, AstraZeneca, Lilly e Boehringer. Instagram: @deborahberanger
Por,
Gisele Barros
Editora Chefe do Portal ALL SENSEZ
Especialista no Mercado de Fragrâncias
Consultora de Comunicação Especializada em Perfumaria












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